De acordo com a UNESCO – Organização das Nações Unidas para Educação, Ciência e Cultura estima que 55% da população moçambicana era até 2019 alfabetizada. A maioria da população não alfabetizada está nas zonas rurais, sendo que nas cidades, 23% dos adultos é que não sabem ler e escrever.
De acordo com dados disponíveis do governo de Moçambique, cerca 30.000 estudantes frequentam o ensino superior, 90mil estudantes frequentam o ensino técnico profissional e 8.4 milhões frequentam o ensino secundário geral.
A primeira vista estes dados podem nos dar a ideia de termos uma enorme quantidade de potenciais leitores capazes de aliementar uma indústria do livro que pode sobreviver por si. Entretanto, dado a ampliação progressiva que o conceito de alfabetização vem assistindo, conforme diz Miguel Buendia para acomodar as necessidades sociais e políticas, um alfabetizado não é aquele que apenas domina as habilidades de codificação e de decodificação, mas aquele que sabe usar a leitura e a escrita para exercer uma prática social em que a escrita é necessária.
Este tipo de leitor pode-se aproximar a aquele leitor que Umberto Eco chamou de “leitor-modelo” que é um leitor activo e que coopera no processo de geração do texto, ou seja, o leitor como aquele que preenche os espaços em branco deixados pelo texto. Entretanto, as evidências demonstram que tem sido cada vez dificil encontrar este tipo de leitor em Moçambique, basta olhar para a referência que Marta Zefanias Sitoe faz as dificuldades manifestadas pelos estudantes universitários moçambicanos na leitura e na escrita de textos da esfera científica como sendo reconhecidas por muitos professores, para notar que mesmo os 30mil estudantes universitários não constituem por si, leitores-em-potência.
Por outro lado, o livro é, conforme descrevu Teresa Manjate um objeto de luxo, de circulação restrita, sendo que ainda de acordo com a autora, os níveis de leitura são baixos e que ainda não está enraizado o hábito de leitura entre os jovens e de igual modo, entre os adultos, devido a fatores históricos e sociais que funcionam como obstáculo para o seu desenvolvimento.
Todos estes factores factores demonstram que para que exista uma indústria literária em Moçambique deve-se patrocinar não só, as actividades de promoção de literacia e hábitos de leitura diante dos diversos seguimentos populacionais, mas também patrocinar a actividade editorial por si. E obviamente quem financia a Ethale são os seus leitores.
Os cenários acima descritos justificam a nossa postura de “fomentadores” da cutura de leitura em Moçambique. E o nosso projecto tem sido bem recebido porque de acordo com os depoimentos dos nossos leitores, identificam-se com a nossa linha editorial, a de colocar as narrativas africanas no centro de toda nossa publicação.
Estamos a iniciar o ano de 2022 com um concurso de leitura. Numa altura em que a maioria dos concursos literários são para escritores, a Ethale decidiu criar um concurso para leitores. Designado “ler nas férias”, o concurso pretende colocar o leitor no centro da crítica literária. Trata-se de olhar para a cadeia do livro não apenas como escritores, editores, críticos, media e mercado, mas para o leitor como o centro para o qual gravita toda actividade editorial e livrerira.
Neste ano não queremos que o leitor continue apenas público-alvo, mas sujeito da cadeia literária moçambicana. Começamos com o concurso e seguem-se outras actividades que ao longo do ano vão tornar o leitor, o dono da voz da Ethale.